sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Doce Fel

O dia estava ensolarado, as temperaturas giravam em torno dos 38°C com sensação de 43°C, segundo a meteorologista do jornal do meio dia. As horas passavam lentamente, a sensação de angústia era maior no meu peito fazendo-me afundar em um mar de tristeza. O seriado que passava na TV não estava me chamando atenção e em pleno sol do meio dia resolvi sair e caminhar.
A temperatura do lado de fora de casa parecia estar mais alta, o suor já era elemento presente em todo o meu corpo e a água que trouxe já funcionava como o regulador térmico dele. Meus pés estavam quentes e minha visão embaçada. O cansaço me envolvia em seus braços e sem perceber estava andando em algum lugar que nunca tinha visto. Olhava para todos os lados a procura do sinal de alguém que me pudesse dizer onde estava. Foi então que tive a ideia de refazer o trajeto que havia me trazido até aqui. E segui de volta pelo caminho.
A estrada dos coronéis, vi o nome estampado em uma placa localizada próximo a beirada do caminho, estava desértica e quente. Não passava nem um veículo sequer e nem ninguém, do lado direito da estrada tinha um enorme roseiral e do lado esquerdo tinha um abismo. Comecei a correr rápido de volta à minha casa. Corri cerca de 1 hora e não vi ninguém e nem sinal de nada. Foi aí que comecei a me preocupar. Estava realmente perdido e precisava de ajuda. Olhei do outro lado da estrada e no abismo eu vi um homem, este parecia um pastor de ovelhas com o seu rebanho todo a pastar. Corri e chamei-o, mas ele não me ouviu. Então resolvi descer o abismo e ir ter com ele.
A descida era íngreme e no começo senti muita dificuldade. O abismo tinha cerca de 700 metros e qualquer deslize poderia ser fatal. Tentava segurar-me nas pedras e colocar os pés em locais seguros. O medo começou a me invadir e como defesa natural do organismo comecei a suar cada vez mais.
Era aproximadamente 4 horas da tarde e o tempo estava ficando frio, a descida tinha ficado mais fácil e quando faltavam cerca de 50 metros, o meu pé deslizou e eu cai. Sai escorregando e minha cabeça batendo nas pedras do morro. Daí cheguei ao fim, minha cabeça toda ensanguentada e um braço quebrado foi o meu saldo. Comecei a chorar, estava ficando com frio, com fome e perdido. Então ergui a cabeça e avistei o pastor de ovelhas. Fui correndo ao seu encontro e quando cheguei mais perto, ele com medo que eu roubasse suas ovelhas tomou uma atitude que eu não esperava, lançou-me uma faca certeira na barriga, caí de tanta dor.

Comecei a chorar e uivar, ele foi embora com o seu rebanho e eu fiquei ali. Sem poder fazer nada e morrendo. A noite parecia não passar, o frio era maior a cada segundo que passava. Então depois de muito tempo perdi as forças e me entreguei. Pensei que tivesse morrido. Mas, era tudo escuro e parecia mais que estava dormindo. Vi pessoas em uma cidade, minha mãe e todos os meus irmãos, vi um sorriso. E então senti algo me apertar, aos poucos acordei e vi que estava envolvido por uma serpente. Ela passou a noite comigo e me sustentou a vida. Sai aos poucos e com dores parti. Andei alguns quilômetros e encontrei uma aldeia de moradores. Pedi abrigo e socorro e depois de duas semanas voltei pra minha casa. Ao chegar lá encontrei tudo como eu havia deixado, e ainda que tudo estivesse do mesmo jeito me sentia diferente. Então percebi que tudo é igual, a diferença está em nós mesmos.