domingo, 13 de novembro de 2016

Carta Final - Suicídio.

Sei lá, minha vida não tem e nem faz mais sentido.
Meu olhar vaga, pairando em todo o corredor. Mas, que corredor é esse? Onde estou?
As lembranças começam a vir a tona, coisas belas me aparecem, e como Santo Agostinho falou, o meu palácio de memórias começa então a se erguer. Vejo com imagens nítidas a primeira palavra que escrevi – meu nome – , minha festinha do ABC, a primeira vez que andei de bicicleta.
 Aiai, a infância, terra tênue, período que não pode ser tirado de mim. A inocência de quem nada sabe sobre o mundo. A serenidade, doçura e ternura emanadas do olhar de um ser tão simples e especial. Começo a ver o tempo passar, parece até que posso ver o meu primeiro textinho escrito, minha primeira paixão, ah! A doce e serena primeira paixão, há quem diga que o primeiro amor jamais é esquecido e sempre é lembrado, e sim, é verdade o que dizem, jamais esquecerei meu primeiro e grande amor. O tempo continua passando, as imagens levantam-se e caem por todo o tempo sem parar. Vejo a adolescência chegando e lá revivo o meu primeiro beijo. As lágrimas já afogam meus olhos, lembro-me tudo. A felicidade de minha mãe, o entusiasmo do meu pai, os mimos de meus avós, os carinhos e presentes de meus tios, todos pareciam querer me fazer feliz, mas o tempo passou.
Ah! O tempo, por que o tempo existe? Queria ter o poder de para-lo, ele me tormenta. A cada vez que chegava a data do meu aniversário parecia que iria passar por uma tortura sem fim, cada numero a mais significava que teria de ter mais responsabilidade e teriam menos cuidados. Meu peito estremece tomado pela emoção e pelos sentimentos que circundam cada pensamento. Onde estão todos os que prometeram me amar e me proteger sempre? Onde estão aqueles que disseram que nunca iriam me abandonar? Onde? Onde?
O tempo passou e não tem sido fácil suportar, existe uma grande responsabilidade e carga de expectativas sobre mim e não estou nada bem. Meu corpo está intacto, mas minha mente padece. Estou sozinho e perdido, todos querem apenas resultados. Meus pais não me veem mais como seu filho, para eles sou apenas um investimento financeiro em longo prazo. Meus avós não se encontram mais conosco para me defender. Meus tios se dispersaram, mal os vejo e quando vejo-os as perguntas sempre são as mesmas. “Como está no trabalho? E na faculdade?”. Parece até que eu não existo mais, o que existe de mim é apenas meu estudo e meu trabalho, ninguém se importa comigo.
Hoje estou completando 19 anos, curso o 4º semestre de medicina (meus pais me forçaram a cursar), trabalho como monitor, mas o mais importante é que não sou nem estou feliz. Decidi escrever essa carta para dizer que ainda existo e se para vocês eu não existo e nada mais sou do que a faculdade e meu trabalho, não existe mais razões para eu viver e continuar aqui.
(levanto-me, subo na minha cama, posiciono a corda no meu pescoço, tiro do meu bolso a caneta e o papel para escrever minhas ultimas palavras)
“Antes que me julguem, a dor que sinto hoje está insuportável, não consigo mais viver assim, hoje estou aqui fazendo o que sempre me disseram, vou em busca da minha felicid...”

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